A Alma no Coldre

Um carvalho velho ao longe. Um cheiro de terra húmida.
Retiro do coldre esburacado, à cintura magra, a arma fria do desgosto.
Aponto como se fosse atirar aos esquilos. Uma bala mortífera de desilusão.
Guardo a arma no coldre. A ninguém este tiro, nenhuma caçada pelo que já está preso aqui dentro.
Aonde vou plantar esta semente de sombra e de vazio
Que nunca há-de germinar?
A quem vou alimentar com a podridão desta paz calada,
à custa de mim, do meu silêncio de pedra e de deserto?
Olho o coldre à procura da arma. Aponto-a para mim.
O seu metal cinzento como um espelho. E olho e
Esquivo-me ao seu tiro. Pólvora seca.
A desilusão não tem fogo para disparar.
Largo tudo – a arma, o coldre. Rumo nua, sem escudo, sem sombra.
Às vezes há que começar em branco. Rumar a partir do vazio.
Até o carvalho oco e velho pode ser majestoso.
Se souber esperar.

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