Ser cúmplice do sol

São muitas as flores que doem na Alma, mesmo nos campos floridos da memória. São demasiados os troncos mortos no chão, as folhas que cedem aos nossos passos, a poeira que nos cega e que fende a língua. Estes destroços são tantas vezes, e tão maiores do que a nossa alegria. É assim o nosso ego, a nossa teimosia, a cegueira que nos amordaça. É por isto que nos doem as flores e os dias luminosos… 

Mas é possível fazer das mãos cúmplices do sol, e acariciar o coração como se protege o pinto vacilante saído do ovo. Beber da alegria pequenina de caminhar sobre este chão por vezes destroçado, mas caminhar ainda, ou sentir o frémito da força esquecida nos pés. E digo, é possível ser feliz. 

Hoje sou cúmplice do sol, e as minha mãos das pedras vivas, e a minha boca do sal e do sumo das laranjas. 

Hoje pode ser nossa a alegria prometida às aves. É só agarrar o sopro, e o voo daquele pássaro. E ser cúmplice da felicidade.