Eras pequenino, talvez 3, 4 anos e eu sonhei… Cabelos em caracóis de caramelo, sedosos e aveludados como o creme guloso do sorvete de verão. Era uma praia deserta, tudo iluminado e fresco, ao fim da tarde ou no início da manhã. Éramos nós em doces corridas pela areia. Éramos nós de mãos dadas, vestidos de branco, de espuma salgada e de areia molhada. Éramos nós como um prenúncio de eternidade, de um amor infinito como o mar.
Eras tu a fazer castelos na areia, com o sorriso a escapar no canto da boca, um pouco travesso, um pouco tímido. Era eu grande, ou pelo menos maior do que tu em tamanho físico, um espectro atrás de ti ou ao teu lado como uma sombra, ansiosa e temerosa pelos teus passos incertos. Amava-te de supetão, amava-te como alguém com medo, seguia-te para todo lado, gravitando incessante em teu redor.
Sabia-te maior do que eu em Tudo. Tu que eras enorme e me amavas a mim, imperfeita e vacilante. Sentia-me esmagada por me teres escolhido, eu, feia mariposa e tu, dragão de fogo voador.
Eras tu, sem que eu soubesse quem eras Tu, ou quem era este Nós que viríamos nascer, faz hoje 2 anos na Terra.
Mas sabia-te desde logo um anjo, que viria em resgates mútuos da Grande Roda da Vida. Resgatar-nos-íamos aos dois, no bote salva-vidas que é o Amor.
E vieste, finalmente, tão precoce anunciado como o Maior que estava porvir.
Vieste, e agora, bebemos sôfregos o fôlego um do outro. É música quando esboças qualquer movimento e eu pressinto a luz e o vento a dançarem no teu gesto. É doce o teu beijo, é melodia perfeita o teu riso. E eu sou tão feliz e tão grata por te ter, por te amar, por te dar a mão e caminhar Contigo. Sou feliz porque existes, e não és meu, eu não sou tua, e, no entanto, estaremos juntos para sempre.
Meu filho, de há dois anos, de sempre, para sempre. Amo-te meu Leão.