Vezes sem conta escrevi sobre o que há de nós dentro da casca, o que nos anima, afinal, a matéria de que somos feitos. Só que não é matéria, é energia pura, é um fragmento do pó das estrelas, um infinitésimo do Tempo e do Espaço primordiais.
Longos são os dias de dor, de raiva, de felicidade, de paixão ou de graça.
Larga banda de pensamento, orientada para tudo o que move no espaço, pequeno ou grande, longo ou curto, som ou ruído.
Mas é isto que somos, é isto que nos cola a alma à existência? Eu não sou o que sinto. Eu sou um palco maior, do qual só vislumbro o que a minha vista alcança, daqui, deste cantinho escuro que sou eu, cheio de sombra e de dúvida. Eu sou o Palco Maior onde tudo acontece, mas nada permanece, o palco vazio e silencioso, como um deserto frio sob o luar. Se pudesse sentir o palco aqui dentro, a sua imensidão, a serenidade apoderar-se-ia desta mente inquieta. E aí, começaria a paz das coisas que, apenas, o são. Nesta consciência maior, é como ter a grande abóbada celeste sobre as cabeças, o infinito cintilante pairando no Alto, a certeza de se estar no lugar certo, no tempo certo, de que tudo está bem no Universo.
É este mergulho que tem de ser feito. Mergulhar na rocha profunda, passando as camadas de sedimentos, pensamentos e sentimentos como formigas, como zumbido permanente de mil pássaros. Mergulhar fundo, deixando para trás o que pesa, o que dói, o insuportável e o inesquecível. Chegar ao magma quente da terra, à agua cálida do útero materno. Regressar à origem, onde somos quietude e paz, onde a morte é apenas uma passagem e o eterno somos nós. Aqui, só Amor existe, sem laços nem saudade. Aqui não há fronteiras, não há diferenças entre o o Eu e o Tu. Somos Nós. Somos deuses e regressámos, finalmente, a Casa.
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