Todos temos Pequenas Tragédias. Às vezes alguém parte, às vezes é uma janela a fechar, ou por vezes, é só uma página que se mantém em branco ou uma árvore por crescer.
Mas as pequenas grandes dores vêem sempre, tão certo como a luz e a sombra.
Nunca se explica ou se termina, propriamente, estas coisas de doer.
Só se deixam passar, como ondas, como brisa, e a elas se sobrevive, para depois se começar a viver, a sério.
E então, reescrever estas dores em coisas bonitas, em aprendizagens, em tatuagens coloridas, na Alma.
Numa roupa fresquinha de flores, que se veste mesmo não se sendo criança, num dia não tão quente. Apenas porque sim.
Continuar a viver e resignificar a dor é propósito suficiente.
Mês: Maio 2021
Vencer o aquário… rumo ao mar
Começa com um dia perfeito de sol. Os risos e os sons habituais do mundo.
De repente é difícil respirar.
Um aperto no peito, uma inquietação nas mãos, um fraqueza de alma que me deixa a tremer.
E não se sabe de onde veio nem quando acabará.
Há apenas um bater descompassado do coração, que se impõe a todos os sons.
É então que faço o tempo abrandar uns segundos. O espaço estabiliza comigo ao centro, pernas afastadas para sustentar, raízes profundas a penetrar a terra.
Respiro uma e outra vez, bem fundo. Dói um pouco expirar, a princípio. Mas insisto um pouco mais.
Às vezes uma espada e um escudo se desenham nas minhas mãos. Endireito as costas, sinto uma força nova a percorrer a minha coluna vertebral, como um pequeno choque elétrico.
Imobilizo a minha mente e o meu coração no mesmo círculo seguro. O aqui e o agora, a margem segura do meu pânico.
Recuo do abismo e recalibro a bússola.
Dou um passo. E depois outro.
Eu sou capaz. Ainda continuo aqui.
E o milagre se ergue de novo sobre duas pernas.
À conquista de mim mesma.
Vitoriosa.