Tempo dos sonhadores

Eu, pequena mortal, grão de trigo vermelho, torrão de terra densa e húmida, tenho um coração telúrico que sente tudo como um oceano. Amo demais e, esse, é o meu maior pecado e a minha maior glória.

Atravessei desertos de líquida tristeza e violentos redemoinhos de mágoa. Voei tonta, como um pássaro ferido de espinho cravado no peito e voei sempre. Das batalhas, trouxe fantasmas e mãos vazias, e um coração valente para continuar.

Quando me senti afogar, conduzi ébria até ao mar e fui ver as estrelas na noite escura. E o amanhã riscava o meu olhar como uma estrela cadente de luz azul.

Escrevi a fogo no meu caderno invisível, incontáveis páginas de tinta escura, para aliviar a alma do fardo das palavras carregadas de amor.

E depois, a felicidade escrevia-se tímida nas pequenas coisas. E, mais tarde, quando a terra estava pronta, a felicidade sem medida veio como um relâmpago, uma força ancestral que me dizia que podia morrer agora, porque tudo estava bem e no seu lugar certo.

Felicidade feita de risos e de mãos dadas, de fins de tarde de luz dourada a lamber-nos a pele, de madrugadas cálidas a surpreender-nos nos braços um do outro.

Felicidade feita de caras redondas em sorrisos brancos, cheios, barrigas como a lua, iluminando o céu alto.

FELICIDADE. Nascida das coisas impossíveis que se tornam verdadeiras, sem se saber como, nem onde, nem porquê, vem uma criança ao mundo para renovar as promessas de deus e dos homens. É possível ser feliz, uma e outra vez. Porque os sonhadores têm sempre outra oportunidade na Terra.

Esta é a minha oportunidade, por agora, plena de ainda mais possibilidades, de futuro e de profundidade. Estou tão grata, que penso que um sol nasce em breve do meu ventre e do meu coração.

Registo para não esquecer nunca. Partilho para todos os sonhadores, que quase desistem, que se desesperam, que perdem as asas e que amam demais, para esses, os que não cessam nunca de acreditar, de viver. E de continuar.

Bom Caminho, Estranho.

Fotografia by magicfotografia.pt