Começa com um dia perfeito de sol. Os risos e os sons habituais do mundo.
De repente é difícil respirar.
Um aperto no peito, uma inquietação nas mãos, um fraqueza de alma que me deixa a tremer.
E não se sabe de onde veio nem quando acabará.
Há apenas um bater descompassado do coração, que se impõe a todos os sons.
É então que faço o tempo abrandar uns segundos. O espaço estabiliza comigo ao centro, pernas afastadas para sustentar, raízes profundas a penetrar a terra.
Respiro uma e outra vez, bem fundo. Dói um pouco expirar, a princípio. Mas insisto um pouco mais.
Às vezes uma espada e um escudo se desenham nas minhas mãos. Endireito as costas, sinto uma força nova a percorrer a minha coluna vertebral, como um pequeno choque elétrico.
Imobilizo a minha mente e o meu coração no mesmo círculo seguro. O aqui e o agora, a margem segura do meu pânico.
Recuo do abismo e recalibro a bússola.
Dou um passo. E depois outro.
Eu sou capaz. Ainda continuo aqui.
E o milagre se ergue de novo sobre duas pernas.
À conquista de mim mesma.
Vitoriosa.