Para ouvir com A wolf at the door de Radiohead.
Tenho o lobo à espreita. À porta. Ali em baixo. Às voltas no chão, a viciar o ar. Está aqui dentro. A brincar com os meus pensamentos. A roubar-me as crianças. A roubar-me os sonhos.
Eis o lobo que me chama. À beira do pensamento, na vertigem do sono. Quero dormir e vejo-o, cinzento, os dentes a tremerem, de lascívia e de sangue. O lobo à espreita. O elefante branco no meio da estrada. O pato sentado à espera do caçador.
Os meus monstros.
O meu sangue, as minhas feridas, o meu sono.
Hoje vou deixá-los todos lá fora, do outro lado do pensamento, do lado escuro da lua. Vou só, navegando até à lua. Sem eles, sem a parte de mim que pesa. Só com a leveza de quem se vê despojado de tudo. E tudo lhe basta.