Este é o tempo do lobo. Sem matilha, sem dono.
Vagueia pela floresta, densa, o lobo cinzento sem coração.
Alguém o viu, a este coração estilhaçado e dilacerado.
Batendo baixinho, por entre as folhas, como se tivesse vergonha por ainda existir.
Este é o tempo das estepes geladas, onde caminha, hesitante, o lobo.
Não sabe se vive, se respira, tem medo de uivar e, ao saber-se vivo, querer morrer.
Que tempo é este, em que um lobo já não sabe que o é.
Passou… é a sua sombra, é o vento?
Anoitece. O lobo aquieta-se debaixo da neve. Procura o calor que sabe existir lá dentro.
As veias e as artérias engurgitam-se no velho hábito de se encheram de sangue.
Gorgolejam em nada, como a agonia do moribundo. Sem ar, sem sangue, sem vida.
Hoje será a noite, a neve e as estrelas a pulsarem ao invés do coração,
Desaparecido, escondido ou esquecido.
O lobo espera o regresso do coração como se espera a primavera:
Ela chegará. Ninguém saberá quando.