Fica. Aquieta-te ao meu ouvido. Quero sentir a tua respiração no meu pescoço. Tão perto, que as tuas pestanas dardejam na minha pele. Um prazer insuportável, só meu, só teu.
Fica. Toca-me aqui dentro, sem mãos, com a tua ausência, com a tua impressão nos lençóis, ainda mornos. Com a certeza do teu regresso derramada ao meu lado.
Fica. Finge que não é de vidro esta parede que nos separa. Finge que é uma lágrima gigante suspensa entre nós, que parece vidro, que parece lupa, a aumentar a dor e o amor.
Fica. Ao fundo do corredor, ainda com o eco dos teus passos, ainda com as lâmpadas tremeluzentes que se agitam à tua passagem.
Fica. Antes que eu descubra que nunca exististe. A não ser aqui dentro. Onde te fiz nascer, e crescer…até te desvaneceres em imprecisas sombras, por entre caves moribundas e dentro de estantes de livros que ninguém lê.
Vai, se tens de ir. Projeto-me deste sofá e já estou lá fora. E sou eu no jardim, livre, a dar comida aos patos. E sou eu, no mundo, a cheirar e beber o ar de novo. Saí, jamais voltarei onde tu estás. Nesse lugar de vazio, onde nunca houve nem haverá nada. Onde ninguém ri. Daqui a pouco. Amanhã.
Não fiques. Deixa-me. Não vês? Já não caminho. Saí a voar e fui com as aves.
Escrito a fogo no meu caderno invisível.