Quantas vidas sonoras tem o meu coração?
De tambor descompassado,
À mais doce flauta enfeitiçada,
A concha estéril ecoando o mar.
Numa outra vida sonora,
O meu coração calou-se num murmúrio.
Tão baixo, que não se sabia com voz
Tão lento, que desesperava o próximo fôlego.
E, durante muito tempo,
O silêncio,
O som da engrenagem,
A mecânica de existir.
Quantas vidas sonoras tem o meu coração?
Agora, nesta vida sonora,
De canto de pássaro ferido,
A ocarina doce e secreta,
Ao sussurro doce de quem recomeça.
Voltar a ser a música que vem dentro,
Um canto que nasce daquele sítio
Onde, afinal, voz alguma morre.
Apenas espera, num lento compasso,
A batida certa para soprar,
O canto certo para entoar.
Quantas vidas sonoras tem o meu coração?
Muitas, não consigo contar.
O segredo está em nunca parar de cantar.