Estradas Secundárias

Há um sítio secreto atrás do teu leito, do teu rio a querer jorrar para fora da tua alma, há tanto tempo escondido, nos muros e veredas do teu coração, da tua fortaleza inexpugnável.  Fui procurar à margem de tudo o que se vê, debaixo da superfície, atrás da vista do mundo. Fui buscar às ruas secundárias, distantes das estradas bonitas que vão dar a caminho algum com o Teu Nome. Lancei-me à margem de mim e de ti, atrás, lá longe e depois do último pôr-do-sol. E encontrei. Encontrei os limos lânguidos com a cor do teu segredo, a humidade fendida sob os meu dedos tacteantes, escorregadios do teu suco de frutos,  demasiado frágeis aos elementos; ao vento e à chuva e à língua molhada dos meus beijos, abrem-se alternadamente, hesitantes na sua dádiva de polpas demasiado verdes, demasiado jovens, mas incrivelmente prontas. Há um segredo original na tua terra pantanosa, lodosa e larga, como um nenúfar pronto a receber a flor, a nutri-la e a entrar nela com raízes profundas, debaixo de água, quente e fumegante, como o teu amor sussurrado no último fôlego antes de adormecer, para sempre. Somos pântanos perdidos um no outro, na jangada de ti em que agarro como náufraga, ao teu leito que encosto à minha margem e, no meu centro, finalmente enraizado em Ti, neste caminho escuro que encontrei até Nós. E agora, perdidos, sujos e molhados, nesta tempestade tropical, temos um rio enorme, transbordante de vida e de cálidos murmúrios de amor, como pássaros inaugurais, cantando pela manhã, mesmo à margem, de Nós e do Mundo.

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