Caminho na margem daquele rio e vejo o tempo, o amor, a dor, a sorte e a morte.
Laços que me prendem a tantas coisas.
Prisões que construí aqui dentro, paredes que se fecharam à minha volta.
E eu, que nasci ignorante desta prisão e, por isso, livre.
E segui vivendo, enlaçando-me neste cárcere que não me permitiu ver, nem ouvir, nem ser. Ser o que verdadeiramente sou, na essência e no princípio de tudo.
Às vezes, ao sair, continua-se prisioneiro de si, já sem paredes nem agrilhões, mas no alto da torre da sua culpa, do seu amor magoado, das coisas como âncoras no fundo do mar.
E esta é a maior prisão de todas.
Ser livre é ser nu. É despir-me desta vestimenta do ódio e da culpa. É expor-me ao ridículo, à solidão e à verdade. É perdoar e deixar partir, de peito aberto, de algibeira vazia.
É recomeçar a contar a minha história, baixinho, junto à fogueira, como uma lenda.
A criar outros laços, que não prendem, antes seguram.