Arma de fogo invisível

Não me amputaram as pernas
Não me coseram a boca
Não me cegaram nem ensurdeceram
Não me rasgaram a garganta
Nem me prenderam as mãos.

Buscaram a arma mais pura
O gume mais afiado,
O diamante mais duro,
O tiro de maior alcance.

Em todas as miras, um único alvo.
Aninhado entre ossos jovens mas frágeis,
Protegido na carne intacta e túrgida,
Pulsando em sopro, em vida e em música
O meu coração,

Irresistível para os maus, os reles, os escuros.
Os que não comem, antes devoram.
Os que não se demoram, aprisionam.
Os que não ferem, destroem.

Aos corações apontam e voam cegos,
Como feias mariposas, gravitando desajeitadas
Em torno da luz.

E agora, que passou a tormenta, e
O coração continua a bater, descompassado
E num sussurro, cansado,
Vou torná-lo visível à luz do dia.
Expô-lo apenas quando o sol está no alto
E o céu está azul.

Um coração à prova de bala.
Um coração à prova de tudo.

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