Ali, ao longe, não sou eu.
Eu atravesso paredes de vidro. Eu flutuo no lago pantanoso.
Eu apanho estrelas cadentes e vejo-as desvanecer na palma da minha mão.
Eu sorrio, mesmo através de mil véus de tristeza.
Aqui, bem perto, não sou eu.
Não sou eu calado, parado no fim do dia, com o corpo dado ao frio ou ao calor.
Não sou eu, de gestos inúteis, com o zumbido dos insectos a dardejarem as pálpebras, os pássaros ao longe, o restolho destes dias de vazio.
Eu amo, eu sinto, eu desejo.
Não sou eu, desta vez, neste lago de águas paradas.
Serei eu amanhã, a engolir a fruta podre na esperança do coração cheio de sumo.
Serei eu amanhã, a sentir o peso da desilusão que esmaga os passos e a correr, atrás do vento.
Serei eu, amanhã, talvez. Como ontem o era. Como hoje me consumo tentando ser.