Houve um tempo de palavras interditas, depois vieram as tempestades violentas. E depois, os grandes silêncios, uma paz que arrastava os podres segredos do coração. Houve um tempo para partir, para cortar e rasgar fundo, até quase nada restar. Houve um tempo assim, sem nada a suportar o corpo, apenas fragmentos de uma Alma que não era mais do que um fantasma em esquinas poeirentas e em ruas sem saída. Foi esse o tempo para matar o que nunca deveria morrer, para fazer o luto do amor de pés de barro, de altares vazios. Foi assim, um vaguear sem rumo, como uma borboleta negra, ébria, em torno de uma lâmpada fosca. E depois houve o tempo de aprender, de descobrir que havia uma Alma ancestral que jamais se perde, que já atravessou o véu do tempo para viver debaixo deste sol. Há um corpo para redescobrir como seu, como se de repente tivesse de fazer o reconhecimento aos limites da carne. E, assim, o fantasma se ergue sobre duas patas. Havia braços para abraçar e pernas para caminhar. E havia caminho, e pedras para afastar. E havia amor, mesmo nos escuros lugares improváveis, onde reina a dor. Há sempre uma semente pronta a despontar, há sempre uma flor para contemplar. E vai ficar tudo bem, porque esta Alma cansada, atravessou o mar de fogo e o deserto de gelo, e bebeu a sua dor e comeu o seu desespero. E aprendeu, e disse, jamais voltarei aqui. E vai continuar. E vai acreditar. O melhor está ainda por vir.