Nestes tempos, é a vez do urso solitário dormir. Retira-se o lobo das estepes para a gruta tranquila.
Não há mais lugar ao branco grande e gelado das neves, das estepes longínquas onde vagueava só.
Não há mais espaço às florestas escuras, aqui dentro e debaixo dos pés, intermináveis e sombrias.
E à vezes lembro-me desse tempo, do urso e do lobo, e fico grata por renovar todas coisas, finalmente.
Agora, é o tempo da luz intensa, do cão fiel e alegre, do gato lânguido nas varandas, do pequeno pássaro a namorar as flores.
Este é o tempo do Amor Imenso, aquele que explica as galáxias a afastarem-se, as estrelas a nascerem, o cantar do mar dentro dos búzios. E então, é um sentir inexplicavelmente silencioso! É uma alegria pura ao entardecer, naqueles segundos em que se descobre o primeiro passo, a primeira gargalhada, a primeira palavra. É o tempo da descoberta dos desfiladeiros íngremes, dos mares salgados, dos vulcões submarinos. Descobrimos juntos a inocência de nascer de novo, de nos revestirmos da matéria bruta de que somos feitos, humanos ignorantes e perfeitos.
Pensava nesta altura contar ao mundo do nosso amor recém nascido.
Mas este amor é pequenino e tímido como qualquer coisa neste mundo que agora começa a ser. Esta alegria de existir é plena aqui dentro, é um sentir tão íntimo… são as luzes do norte a dançarem nos céus escuros.
E tudo acontece cá dentro, e lá fora, apenas um breve restolhar das folhas a partirem-se, da água a borbulhar sobre as rochas, das campainhas das flores sob a brisa.
Mas nós sabemos ter borboletas cá dentro. E que a alegria é íntima e apenas contamos às estrelas e às flores como somos felizes. E é para sempre.